Intermedic: Revista de Internet e Medicina
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O Que é a Tecnologia "Push"

Curso Continuado de Internet em Medicina [3]


Marcelo Sabbatini

No campo das publicações cientifícas, técnicas e médicas, a tecnologia "push" ou webcasting representa uma inovação revolucionária, com o surgimento de canais e editores altamente especializados. Estes canais atuam como coletores das principais notícias e novos artigos publicados diariamente na WWW.

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Cinco mil anos atrás, com a invenção da escrita, ocorreu o primeiro grande salto quântico da espécie humana em direção à civilização tecnológica. O segundo só veio a ocorrer na metade do século XV, com a invenção da imprensa por tipos móveis, por Gutenberg. A possibilidade de reproduzir milhares de cópias idênticas do mesmo documento levou à criação das primeiras revistas e jornais, um conceito revolucionário. Mas isso se deu de forma bastante gradativa, pois a primeira revista científica impressa, por exemplo, só foi lançada em 1665, mais de 200 anos depois. No entanto, até hoje, essa é a base do portentoso sistema de divulgação na ciência e na tecnologia, com conta com mais de 300 mil revistas em todo o mundo, e que pouco mudou nos últimos três séculos.

Agora, no entanto, tudo isso está para mudar de maneira radical, com o desenvolvimento das redes globais de computadores, como a Internet, principalmente depois da explosão da WWW (World Wide Web), que permite a publicação eletrônica de alta qualidade, com texto, imagens, vídeos, etc. Em conjunto, essas duas novas tecnologias têm um potencial revolucionário muitas vezes maior do que a própria invenção da imprensa, na divulgação de informações na área da saúde.

A WWW é baseada em um modelo proativo de busca da informação, ou seja, na navegação tradicional pela Internet, denominada de tecnologia "pull" (do inglês, puxar), o usuário obtém a informação de diferentes sites da WWW, procurando por tópicos de seu interesse. O imenso volume de documentos e sites disponíveis faz com que a obtenção da informação desejada seja alcançada somente após uma refinada pesquisa com os mecanismos de busca existentes, dificultando o processo. Além disso, o contínuo aumento da informação disponível, e a obrigatoriedade de se visitar individualmente os "sites" de interesse na WWW está aos poucos inviabilizando o acesso, tanto do ponto de vista do usuário quanto do ponto de vista dos editores.

Já as mídias informativas tradicionais se baseiam em um modelo passivo, ou seja, o assinante recebe a informação através de um sistema de "broadcasting" ou emissão (jornais, revistas, rádio e TV). Na Internet também já existe essa tecnologia, que é denominada de "push", também conhecida pelos termos "webcasting" e "pointcasting". A solução dada pelo advento da tecnologia "push" inverte essa equação, fazendo com que a Internet, alcance o usuário final, entregando informações baseadas em um perfil de interesses pré-definidos e eliminando etapas de pesquisa e seleção.

Como Funciona

O sistema de tecnologia "push" foi lançado ao público através do software comercial PointCast, nos meados de 1996, seguido de outros, como Marimba, e os recentes Netcaster e Webcaster (veja a resenha do software PointCast, no número 2 da revista Intermedic). O termo "pointcasting" recebeu este nome pois é uma transmissão de notícias ponto a ponto, ou seja, do gerador para o receptor, ao contrário da tecnologia de "broadcasting", que é a emissão de programas padronizados de um ponto para muitos, como no jornal, na TV e no rádio comuns (veja a figura).

O sistema é constituído, do lado do assinante, de um browser (visualizador) especializado que utiliza o mesmo protocolo por exemplo, o Castanet é o nome do servidor que trabalha com o Marimba). Este, por sua vez, se baseia no mesmo protocolo básico TCP/IP de comunicação utilizado na Internet.

Tela de acesso do browser especializado do PointCast

Os atores essenciais a um sistema de informações do tipo "push" são os assinantes do serviço (usuários que têm conexão à Internet e assinam os canais do serviço), os editores (o os criadores do conteúdo) e os vendedores (que criam as aplicações cliente e servidor para os assinantes e editores utilizarem. Entre os principais destacam-se companhias como PointCast, Marimba, Netscape e Microsoft (veja os endereços dessas empresas no final do artigo). No campo não científico, o modelo de financiamento do fornecimento da informação tem sido de acesso gratuito, porém com anunciantes, que podem colocar em uma janela do browser uma propaganda animada e ligada aos seus sites na Internet.

A rápida disseminação da tecnologia "push" na Internet tem levado a numerosas iniciativas organizacionais, tais como o Push Council. Estima-se que, atualmente, cerca de 10 % do tráfego diário na Internet no mundo é atribuida à tecnologia "push" (somente a PointCast tem mais de 2 milhões de usuários).

Cada servidor de  "push" oferece vários canais de mídia informativa, entre eles canais de notícias, entrenimento, esportes, saúde, negócios, etc. O usuário do programa configura os canais de seu interesse e recebe a atualização de informações de acordo com esta escolha, com atualizações periódicas. Os canais podem ser constituídos de páginas HTML, applets Java, imagens, vídeos, sons ou qualquer tipo de mídia digitalizada. A freqüência de atualização das notícias pode também ser configurada pelo usuário, e pode ser contínua ou períodica, ou ainda sob demanda. O servidor armazena um perfil dos interesses e opções do usuário, contata o cliente através da Internet no horário programado, e envia ("push") o material novo desde a última emissão, o quali fica armazenado do disco do cliente, para posterior revisão.
 

Tela de seleção dos canais do software PointCast permite a personalização do conteúdo a ser recebido pelo usuário

Na tecnologia "push", a informação é transmitida na forma de pacotes, os quais existem atualmente em vários formatos. O futuro da indústria depende do sucesso de se criar um formato padrão para todos os softwares. Quanto ao software cliente, geralmente é de domínio público e distribuído gratuitamente. Atualmente pode-se usar também os browsers genéricos (Internet Explorer, Netscape, etc) para acessar canais "push", mas normalmente é utilizado o cliente especializado, como o PointCast, o Marimba, etc. Para implementar um serviço "push", o provedor de informações necessita instalar um software servidor específico, que trabalha em conjunto com o cliente ( de usuários). Os analistas especializados são unânimes em afirmar que esta é será a área da Internet que mostrará os maiores índices de crescimento em futuro próximo.

Tela dinâmica do PointCast, que aparece no lugar do seu screen saver.



A Tecnologia "Push" nas Publicações Médicas

No campo das publicações cientifícas, técnicas e médicas, as perspectivas são bastante promissoras, com o surgimento de canais e editores altamente especializados. Estes canais atuam como coletores das principais notícias e novos artigos publicados diariamente, tendo a possibilidade de trazer embutido no pacote os "hyperlinks" (vínculos de texto ou imagens) para notícias ou sites relacionados. No atual cenário de excesso de volume e diversidade de informações, a tecnologia "push" constitui uma ferramenta vital para o profissional da área de ciências se manter atualizado. Uma combinação entre várias tecnologias da Internet ("pull", "push" e correio eletrônico) permitem antever uma grande riqueza nas metodologias de distribuição da informação.

Um bom exemplo é o sistema de noticias resumidas de saúde criado pela Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore, EUA, uma das mais famosas do mundo. Denominado de InteliHealth, o sistema combina todas as tecnologias acima: ele tem um "site" tradicional na WWW, o qual é atualizado diariamente com notícias sobre medicina e saúde captadas através de agências noticiosas, como a Reuters, CNN, Associated Press, etc, ou resumidas a partir de trabalhos recém-publicados em revistas como New England Journal of Medicine, Lancet, Nature Medicine, etc. Além disso, em associação com a PointCast, o usuário pode assinar os canais de notícias de saúde que desejar, que incluem: carreira profissional (ofertas de emprego, anúncios de congressos), educação médica continuada, atualidades médicas em várias áreas, notícias sobre medicamentos, indústria de equipamentos, sistemas de administração de saúde, saúde pública, notícias médicas para consumidores, etc. Alguns desses canais comportam subdivisões, que o usuário também pode especificar quais deseja receber. Finalmente, o usuário também pode assinar uma lista de distribuição através do correio eletrônico, passando a receber diariamente em sua caixa postal um resumo das principais notícias. Tanto no e-mail quanto no PointCast, existem os endereços na WWW que contêm as notícias em forma mais extensa ou elaborada, de modo que o usuário possa "navegar" até elas, se se interessar.

Recentemente a PointCast Corporation lançou dez servidores especializados (verticalizados) em segmentos de informação, sendo um deles o de saúde. O cliente especializado pode ser descarregado gratuitamente e instalado em sua máquina através do endereço http://www.pointcast. com.

Deste modo, está surgindo uma nova forma de comunicação de alto impacto, ao mesmo tempo aproveitando todos recursos multimídia disponíveis na Internet com a certeza de que a informação é entregue ao usuário correto e de acordo com o perfil desejado. No futuro próximo, a integração da tecnologia "push" com mídias tradicionais como televisão, cinema e rádio também será possível, alterando de forma radical não somente os meios de comunicação de massa, mas também as estratégias de marketing e de negócios envolvidas.

Finalmente, o uso de tecnologias de informação baseadas em Inteligência Artificial acopladas à Internet, poderão ser usadas para refinar os filtros de informação do lado do cliente ou do servidor, de tal forma que robôs de software e outros tipos de agentes autônomos poderão colocar no computador do assinante somente os artigos e notícias que safisfaçam critérios altamente específicos de interesse.

Para Saber Mais

O Autor

Marcelo Sabbatini é engenheiro, editor associado do Grupo e*pub do Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP, e pós-graduando da área de Comunicação Cientifica da Universidade Metododista de São Paulo, onde desenvolve projeto de uso da tecnologia "push"na divulgação de informação profissional em Saúde.

Email: msabba@nib.unicamp.br WWW: http://nib.unicamp.br/~msabba 

Publicado em: 25.Fev.1998

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Publicação: 
Nucleo de Informatica Biomedica UNICAMP  
Núcleo de Informática Biomédica 
Universidade Estadual de Campinas  
© 1997 Renato M.E. Sabbatini 
Apoio: 
Searle do Brasil  
Searle do  
Brasil