Revista de Informatica Medica
Vol. 1 No. 5 Set/Out 1998
 
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Ant Prox 

Editorial 

A Inteligência Invisível

Inteligência Artificial. Essa é uma das palavras mágicas da Informática, e que tem um tremendo apelo para as pessoas. Basta ver o número de coisas, como videocassetes, que são anunciados como "inteligentes", o que faz a maioria das pessoas evocar uma imagem de tecnologias sofisticadas e inacessíveis, de difícil compreensão para o leigo. 

Acontece que não é nada disso. Inteligência Artificial (IA) nada mais é do que um conjunto de tecnologias computacionais que têm por objetivo imitar processos intelectuais humanos (raciocínio, decisão, resolução de problemas, planejamento, reconhecimento de padrões, etc.). Pode ser muito simples, ou muito complexa, dependendo da tarefa. Os programas de IA simplesmente usam a lógica e são capazes de decidir, usando um número grande de fatos e axiomas, que são armazenados no computador na forma de uma base de conhecimentos. São os sistemas especialistas, que atuam em um determinado domínio restrito do conhecimento, e têm um desempenho surpreendentemente alto, chegando a se equiparar a especialistas humanos, em capacidade de resolução de problemas. 

Em medicina, foram desenvolvidos mais de 2.000 nos últimos 20 anos, a partir do MYCIN, o programa pioneiro, desenvolvido em Stanford por um jovem médico, Edward Shortliffe.Entretanto, apesar de sua potência e utilidade, os sistemas especialistas tem encontrado muito pouca aplicação prática no mundo real da medicina. Pouco mais de 65 têm uso corrente. A razão para isso tem muito mais a ver com problemas de aculturação e tradição, do que com tecnologia. 

A coisa está mudando gradualmente, entretanto, e o seu nome é: "inteligência embarcada". São os sistemas baseados em IA que são colocados em um aparelho, máquina ou função, e que desempenham suas atividades de forma contínua e transparente (o usuário nem sabe que o programa está lá). Por exemplo. já existem desfibriladores que sabem decidir, pela análise de alguns segundos do ECG do paciente, se a cardioversão é necessária ou não. Estão sendo usados a bordo de aviões, por exemplo, como equipamento padrão, pois não precisam mais de um médico para serem operados. 

Esta inteligência invisível tende a ser cada vez mais comum, principalmente nos equipamentos biomédicos de última geração. Essa tendência é preocupante, no entanto, pois o potencial para falhas letais para o paciente é grande. O controle e a responsabilidade não estão mais na mão dos médicos. Chamou muito a atenção da mídia, por exemplo, dois casos de neonatos que morreram em incubadoras computadorizadas (ambas da mesma empresa) que se desregularam e aumentaram a temperatura. 

Atualmente a FDA americana (Food and Drugs Administration) exige a certificação rigorosa desses tipos de software, antes que eles possam ser comercializados. Aqui no Brasil, acho, ainda ninguém levantou esse problema e como resolvê-lo.Por outro lado, a "inteligência embarcada" tem inegáveis benefícios em muitas situações. Os programas costumam acertar mais do que o ser humano em situações onde se exige velocidade de decisão e avaliação simultânea e precisa de dezenas de variáveis. Com o aumento da complexidade dos procedimentos médicos, não teremos muita escolha no futuro: os programas de IA serão parte do nosso dia a dia. 

Topo  Renato M.E. Sabbatini
Editor Científico
 
© 1998 Renato M.E. Sabbatini
Núcleo de Informática Biomédica 
Universidade Estadual de Campinas 
Campinas, Brasil
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